ANO ZERO – O SURTO
Em 2029, em meio a uma crescente crise alimentar e conflitos geopolíticos sobre o uso de pesticidas, um consórcio militar-agroquímico liderado por ares das corporações NeuroGen e AgraCore desenvolveu um organismo transgênico baseado no fungo Ophiocordyceps unilateralis. O projeto, batizado de CORDYCEPS-HX, foi apresentado inicialmente como uma ferramenta de controle de pragas. Sob financiamento de setores militares de países do norte global, o fungo foi geneticamente alterado para interagir com neurotransmissores humanos, especificamente a dopamina, serotonina e adrenalina. A proposta era criar um "inibidor de hostilidade": um vetor biológico que pudesse ser usado em populações civis durante guerras urbanas, manifestações ou prisões de segurança máxima. O fungo seria capaz de induzir estados de calma, apatia ou obediência temporária ao modular a atividade do sistema límbico. Em testes iniciais com animais, os resultados foram promissores — os ratos tornaram-se passivos, perdiam o instinto de fuga, e eram facilmente controláveis via impulsos sonoros e luz. Contudo, ao testar o fungo em ambientes urbanos simulados, o controle escapou das mãos dos cientistas. O CORDYCEPS-HX foi exposto, acidentalmente, a grandes concentrações de poluentes industriais — principalmente dioxinas e metais pesados presentes no subsolo de zonas industriais abandonadas onde testes ilegais ocorreram, como em Camp Matthews, uma antiga base militar reativada secretamente em Seattle. Essa interação química forçou o fungo a se adaptar de maneira agressiva, acelerando sua reprodução, mutação e capacidade de infecção entre espécies. Os primeiros infectados apresentaram sintomas psiquiátricos severos: alucinações visuais, paranoia extrema, surtos de violência e despersonalização. Em laudos médicos, foram diagnosticados com distúrbios mentais agudos, o que atrasou a detecção da verdadeira causa: o fungo já estava entrando no cérebro e se replicando diretamente no córtex pré-frontal. Após poucas semanas, o CORDYCEPS-HX alcançou uma segunda fase de mutação, tornando-se capaz de: Liberar esporos pelo trato respiratório dos infectados. Sobreviver em superfícies por até 48 horas. Propagar-se por mordidas, quando o fungo já havia colonizado completamente a boca e mandíbula do hospedeiro, forçando comportamentos canibais. Quando finalmente o mundo entendeu que a infecção era real e imparável, era tarde demais. Hospitais colapsaram. Milhões fugiram das cidades, carregando esporos consigo. As Forças Armadas bombardearam zonas de quarentena. Nenhuma nação estava pronta para o que viria a seguir.
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